TUDO É AMOR (André Luiz)
Observa, amigo, em como do amor tudo provém e no amor tudo se resume.
Vida - é o Amor existencial.
Razão - é o Amor que pondera.
Estudo - é o Amor que analisa.
Ciência - é o Amor que investiga.
Filosofia - é o Amor que pensa.
Religião - é o Amor que busca Deus.
Verdade - é o Amor que se eterniza.
Ideal - é o Amor que se eleva.
Fé - é o Amor que se transcende.
Esperança - é o Amor que sonha.
Caridade - é o Amor que auxilia.
Fraternidade - é o Amor que se expande.
Sacrifício - é o Amor que se esforça.
Renúncia - é o Amor que se depura.
Simpatia - é o Amor que sorri.
Altruísmo - é o Amor que se engrandece.
Trabalho - é o Amor que constrói.
Indiferença - é o Amor que se esconde.
Desespero - é o Amor que se desgoverna.
Paixão - é o Amor que se desequilibra.
Ciúme - é o Amor que se desvaira.
Egoísmo - é o Amor que se animaliza.
Orgulho - é o Amor que se enlouquece.
Sensualismo - é o Amor que se envenena.
Vaidade - é o Amor que se embriaga.
Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do Amor, não é senão o próprio Amor que adoeceu gravemente.
Tudo é Amor. Não deixes de amar nobremente. Respeita, no entanto, a pergunta que te faz, a cada instante, a Lei Divina: “COMO?”.
PERTENCER (Clarice Lispector)
Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela, o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu, de algum modo, devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se, no berço, experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso é, por exemplo, que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo as minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o!
Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto, fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdoo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho.
Por Nolfeu Barbosa.