E chegou, no último dia 21, por volta do meio-dia, mais um inverno em nossas vidas. Neste inverno teremos a ação do fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico e altera a circulação geral da atmosfera no planeta, mexendo com o clima no Brasil e no resto do mundo.
Até agora não fez muito frio, também por causa do El Niño, que pode bloquear as massas de ar frio que chegam do sul do continente, provocando elevação nas temperaturas registradas nos últimos anos.
Segundo a METSUL Meteorologia, haverá a incidência de chuvas regulares em nosso Estado, durante o inverno, alternando dias muito frios com dias com temperaturas um tanto elevadas, causando aquela sensação outonal em nossos corpos.
Temos que ficar em alerta, também, para possíveis vendavais, ciclones e inundações, que causam prejuízos consideráveis para a população.
Pelo sim, pelo não, sugiro que vocês abasteçam suas despensas com pinhão, pipoca, amendoim, quentão e chocolate em pó, para aproveitar os dias frios que virão pela frente.
E não esqueçam o mais importante, neste inverno: revisem seus roupeiros, armários, ou onde quer que vocês guardem suas roupas, e separem aquelas que possam ser doadas para quem tem menos que nós. Não doem roupas estragadas, que não possam ser utilizadas por quem necessita. Seja altruísta, ajude a quem precisa, na medida do possível, é claro.
Quando ajudamos as pessoas, duas coisas acontecem: a pessoa que recebe a doação fica eternamente grata, e nós sentimos o nosso espírito elevado e ficamos com aquela sensação boa de que estamos sendo úteis à sociedade como um todo.
E curta bastante o inverno, pois você merece.
AS CRÔNICAS A SEGUIR SÃO DE RUBEM BRAGA, ESCRITOR E JORNALISTA, NASCIDO EM CACHOEIRO DO ITAPEMIRIM-ES
AS BOAS COISAS DA VIDA
Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer as “dez coisas que fazem a vida valer a pena”. Sem pensar demasiado, fiz esta pequena lista:
- Esbarrar, às vezes, com certas comidas da infância. Por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.
- Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecem...
- Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado e, de repente, dar um chute perfeito - e ser aplaudido pelos serventes de pedreiro da obra próxima.
- Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão inveja na gente e vontade de reler.
- Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade - ou que uma grande amizade está virando, de repente, amor.
- Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de espírito e frustração da carne - a mulher que não te deu e não te dá, essa amaldiçoada.
- Viajar, partir…
- Voltar.
- Quando se vive na Europa, voltar para Paris; quando se vive no Brasil, voltar para o Rio de Janeiro.
- Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução: a morte - o assim chamado descanso eterno.
DESPEDIDA
E, no meio dessa confusão, alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval - uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito - depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado - sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras - com flores e cantos. O inverno - te lembras? - nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
Coluna assinada por Nolfeu Barbosa.