A vida, depois dos 70 anos, nos apresenta dias “sim” e dias “não”. Trocando em miúdos, isso quer dizer que há dias em que acordamos bem dispostos, abrimos a janela do nosso quarto e pensamos:
“Que dia lindo, hoje estou me sentindo muito bem.”
E há dias em que teria sido preferível ficar na cama. E não é por estarmos doentes ou deprimidos, apenas não acordamos bem, e isso é perfeitamente normal nessa idade. Às vezes, quando nos olhamos no espelho, notamos uma ruga aqui, outra ali. Mas, se olharmos pelo lado positivo, essas são as rugas da experiência, do conhecimento, e de entender as coisas por um prisma mais abrangente e mais complacente. Há dias em que acordamos com dores no quadril, nos joelhos, pernas e pés; e há dias em que não sentimos dor alguma, parece até que estamos rejuvenescidos. Em dias assim, nos sentimos como se bastasse abrirmos os braços para conquistar o mundo, fazer todas aquelas coisas que fazíamos há quarenta ou cinquenta anos.
Depois dos 70 anos aprendemos a ser mais indulgentes, a dar o braço a torcer e a não entrar em discussões tolas ou estéreis que, além de não levarem a lugar algum, trazem mais aborrecimentos do que prazer.
Nós, seres humanos, estamos em constante evolução, e temos que entender que envelhecer é um processo lento e inexorável, onde adquirimos vivência e experiência, sem contar a sabedoria, que não tínhamos quando éramos jovens. Estamos cumprindo a nossa jornada. Cada um de nós está vivendo a própria aventura e não há como fugir disso.
Mas, como tudo na vida, também tem um lado bom em envelhecer: quando ficamos mais sábios, procuramos sempre tirar o melhor proveito de cada situação; ao ficarmos mais experientes, podemos evitar cometer os mesmos erros da juventude; e, sem sombra de dúvida, ao envelhecermos ficamos muito mais tolerantes, aceitamos cada situação como ela se apresenta.
O mais importante é levantar a cabeça, não desanimar, seguir em frente, pois ainda há uma vida inteira a ser vivida, mesmo que o tempo agora não seja tão largo quanto era ao nascermos.
Não esqueçamos que, a cada derrota nos tornamos mais fortes, e cada vitória pavimenta o nosso caminho até o destino final.
MUDE (Edson Marques)
Mude...
Mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade. Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os teus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de televisão, compre outros jornais... Leia outros livros, viva outros romances. Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado, outra marca de sabonete, outro creme dental, tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue fora os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores. Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus. Mude. Lembre-se de que a vida é uma só. E pense seriamente em arrumar outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!
"Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena"
O SÁBIO E A BORBOLETA (Fábula Oriental)
Havia um viúvo que morava afastado, com suas duas filhas curiosas e inteligentes. As meninas sempre faziam muitas perguntas. Algumas ele sabia responder, outras não. Como pretendia oferecer a elas a melhor educação,
levou as meninas para passarem férias com um sábio que morava no alto de uma colina. O sábio sempre respondia todas as perguntas sem hesitar. Impacientes com o sábio, as meninas resolveram inventar uma pergunta que ele não saberia responder. Então, uma delas apareceu com uma borboleta azul, que usaria para pregar uma peça no sábio.
– O que você vai fazer? - perguntou a irmã.
– Vou esconder a borboleta em minhas mãos e perguntar se ela está viva ou morta. Se ele disser que está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-la voar.
Se ele disser que ela está viva, vou apertá-la e esmagá-la. E assim qualquer resposta que o sábio nos der estará errada!
As duas meninas foram, então, ao encontro do sábio, que estava meditando.
– Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me, sábio, ela está viva ou morta?
Calmamente o sábio sorriu e respondeu:
– Depende de você. Ela está em suas mãos.
REFLEXÃO
Assim é a nossa vida, o nosso presente e o nosso futuro. Não devemos culpar ninguém quando algo dá errado. Somos nós os responsáveis por aquilo que conquistamos (ou não). Nossa vida está em nossas mãos, assim como a borboleta azul. Cabe-nos escolher o que fazer com ela.
Não deixe ninguém interferir nisso!
Por Nolfeu Barbosa.