Coluna: COLUNA DO BARBOSA

De repente (Léo Scotty)
08 de Abril de 2022 às 08:30
Hoje, 08 de abril, Nolfeu Barbosa traz três belos textos para reflexão. A coluna abre com o texto intitulado De Repente, de autoria de Léo Scotty.
Hoje, 08 de abril, Nolfeu Barbosa traz três belos textos para reflexão. A coluna abre com o texto intitulado De Repente, de autoria de Léo Scotty.

De repente, não mais que de repente, você se dá conta de que não viveu como deveria. De repente, você percebe que não realizou nem a metade do que projetou pra si mesmo. E agora, o que fazer? Não pode corrigir os erros cometidos; não pode, também, apagar o passado. Que dilema!...

Analisando o que ficou para trás, o que poderia ter sido feito de diferente? Mudança de emprego, quando era jovem? Não valeria a pena, já que você não ganhava tão mal assim. Ter se casado e constituído uma família? Afinal, você sempre quis ser pai, lembra disso? E o que mudou assim, tão radicalmente, seus planos da juventude? Em que curva do destino você perdeu o fio da meada? Agora, passando dos cinquenta, você já nem pensa mais em casamento, ou sequer viver com alguém, já que você preza tanto sua liberdade, sua independência e seu atual modo de viver. Como trazer alguém para o seu mundo, dividindo espaço e alterando toda a sua rotina, à qual você já está tão habituado? Seria um sacrifício enorme, não é mesmo?

Então, meu amigo, só resta mesmo conformar-se com essa situação e partir em busca da satisfação íntima e pessoal. Você não pode mudar o passado, mas pode mudar o presente, talvez até o seu futuro. Deixe seus medos e ansiedades de lado, mude alguns hábitos, altere suas rotinas, pratique atividades esportivas; troque sua alimentação, faça meditação e procure desenvolver relações pessoais e sociais mais positivas. E não deixe de perseguir, no horizonte da vida, qualquer resquício de felicidade, pois ela é a mola propulsora da vida humana.

SOLIDÃO (Fátima Irene Pinto)
Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo. isso é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar. isso é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe as vezes, para realinhar os pensamentos. isso é equilíbrio.

Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a nossa vida...

Isso é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... isso é circunstância.

Solidão é muito mais que isso. Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos, em vão, pela nossa Alma!

A MORTE DEVAGAR (Martha Medeiros)
Morre lentamente quem não troca de ideias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os “pingos nos is” a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda e, na maioria das vezes, isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que, ao menos, evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.


Seleção de textos feita por Nolfeu Barbosa.

 

Mais artigos de COLUNA DO BARBOSA