Coluna: COLUNA DO BARBOSA

Ditados corrigidos
07 de Janeiro de 2022 às 10:27
Na coluna desta sexta-feira, Nolfeu Barbosa explica o significado de alguns ditados populares que sofreram alterações ao longo do tempo.
Na coluna desta sexta-feira, Nolfeu Barbosa explica o significado de alguns ditados populares que sofreram alterações ao longo do tempo.

Toda língua tem algumas expressões que fazem sentido dentro de seu contexto, com significados próprios, muitas vezes diferentes do sentido literal das palavras. Algumas vezes, usamos essas expressões e ditos populares, mas não temos ideia do que elas significam, ou de qual é a sua história. Ao investigar a origem dessas expressões, nota-se que o significado, e até mesmo as palavras de alguns ditos populares, sofreram alterações com o tempo. Isso acontece porque há uma relação muito forte com a oralidade. Vamos conhecer a forma original de alguns ditos?

O mais intrigante e interessante, ao meu ver, é:
“Cor de burro quando foge”.
Significado: Está indefinido, não tem uma cor definida.
Origem: O burro, quando enraivecido, é muito perigoso. Nesse contexto, a frase original tinha mais sentido: “Corro do burro quando ele foge”. A tradição oral foi modificando a frase, e a palavra “corro” foi transformada em “cor”. Com a mudança, um novo sentido foi atribuído a esse dizer popular.

“Quem não tem cão, caça com gato.”
Significado: Você deve se virar como puder, com os recursos que tem, para alcançar seus objetivos.
Origem: A expressão correta seria “Quem não tem cão, caça como gato”. Isto é, caça sozinho, astutamente, sorrateiramente, escondendo-se como faz realmente um felino.

"Esse menino parece que tem bicho carpinteiro."
Significado: O menino é muito agitado, não para quieto.
Origem: A expressão original era “Esse menino parece que tem bicho no corpo inteiro”, que também tem o sentido de um corpo agitado, que não consegue ficar parado. Segundo o dicionário Houaiss, o bicho carpinteiro é uma espécie de besouro que, durante o estágio de larva, broca troncos e cascas de árvores.

“Quem tem boca vai a Roma”.
Significado: Quem sabe se comunicar vai a qualquer lugar.
Origem: Originalmente, o provérbio era “Quem tem boca vaia Roma”, do verbo vaiar. Neste caso, não somente a expressão como seu significado sofreram alterações com o passar do tempo. Na época do imperador romano Júlio Cesar, ninguém podia contrariar sua opinião. Portanto, a plebe e os escravos acreditavam que a cidade de Roma merecia vaias por causa de seu imperador. Com o tempo, o dito foi sendo alterado em função do que o povo ouvia, até mudar totalmente o sentido.

“O menino é cuspido e escarrado o pai”.
Significado: O menino é muito parecido com o pai.
Origem: Esse dito popular, na realidade, era “esculpido em carrara” (onde era esculpido o melhor mármore). À medida que o provérbio foi passando de boca em boca, sofreu alterações nas palavras, mas o significado se manteve.

“O colega enfiou o pé na jaca ontem”.
Significado: O colega cometeu excessos ontem, bebeu demais.
Origem: A origem dessa expressão remonta aos tempos em que os bares tinham, na parte da frente, cestas com legumes e frutas para serem vendidos. Essas cestas tinham o nome de “jacá”. Quando uma pessoa bebia demais, ficava de pileque, saía cambaleando e enfiava o pé no jacá, pois não percebia a presença dele. Por isso, a expressão “verdadeira” era “Enfiou o pé no jacá”. À medida que essa expressão foi sendo usada e apropriada pelos brasileiros, foi passando de boca em boca e foi modificada para “jaca”.

"Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão".
O correto é: "Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão".

"São ossos do ofício".
O correto é: "São ócios do ofício".

"Hoje é domingo, pé de cachimbo".
O correto é: "Hoje é domingo, pede cachimbo" (do verbo pedir).

ARRISCAR-SE É VIVER (Sören Kierkegaard)

Rir é arriscar-se a parecer louco. Chorar é arriscar-se a parecer sentimental.
Estender a mão é arriscar-se a se envolver.
Expor seus sentimentos é arriscar-se a expor o seu eu verdadeiro.
Expor suas ideias e sonhos em público é arriscar-se a perder.
Viver é arriscar-se a morrer.
Ter esperança é arriscar-se a sofrer decepção.
Tentar é arriscar-se a falhar.
Mas... é preciso correr riscos.
Porque o maior azar da vida é não arriscar nada...
Pessoas que não arriscam, que nada fazem, nada são.
Podem estar evitando o sofrimento e a tristeza.
Mas assim não podem aprender, sentir, crescer, mudar, amar, viver...
Acorrentadas às suas atitudes, são escravas, abrem mão da sua liberdade.
Só a pessoa que arrisca é livre...
Arriscar-se é perder o pé por algum tempo.
Não se arriscar é perder a vida toda.

Seleção feita por Nolfeu Barbosa

 

Mais artigos de COLUNA DO BARBOSA