Coluna: COLUNA DO BARBOSA

Falta de tempo
12 de Fevereiro de 2021 às 08:00
A Coluna do Barbosa de hoje propõe uma reflexão: Você tem tido tempo para os seus amigos?
A Coluna do Barbosa de hoje propõe uma reflexão: Você tem tido tempo para os seus amigos?

Hoje, ao atender ao telefone, meu mundo desabou. Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linha me informava que o meu melhor amigo, meu companheiro de jornada, havia sofrido um grave acidente, vindo a falecer. As imagens de minha juventude vieram quase que instantaneamente na memória. A faculdade, as bebedeiras, as conversas em volta da lareira até altas horas da madrugada, os amores não correspondidos, a cumplicidade, os sorrisos. Ah, os sorrisos... Como eram fáceis de surgir naquela época. Lembrei da formatura, das lágrimas e despedidas e, principalmente, das promessas de novos encontros. Em seus olhos, eu via a promessa de que eu nunca seria esquecido. E, realmente, nunca fui. Perdi a conta das vezes em que ele, carinhosamente, me ligava quando eu estava no fundo do poço, das mensagens que nunca respondi. Lembro que foi o seu rosto que vi, quando acordei de minha cirurgia do apêndice. Lembro que foi em seu ombro que chorei a perda de meu amado pai. Foi em seu ouvido que derramei as lamentações do noivado desfeito. Apesar do esforço, não consegui me lembrar de uma só vez em que eu tenha pego o telefone para dizer a ele o quanto era importante para mim. Afinal, eu não tinha tempo. Não lembro de procurar um texto edificante e enviar para ele. Eu não tinha tempo. Não lembro de ter ouvido os seus problemas. Eu não tinha tempo. Acho que eu nunca sequer imaginei que ele tinha problemas. Não me dignei a reparar que, constantemente, o meu amigo passava da conta na bebida. Só agora vejo com clareza o meu egoísmo. Talvez, e este talvez vai me acompanhar eternamente, se eu tivesse saído de meu pedestal e prestado um pouco de atenção e despendido um pouquinho do meu sagrado tempo, meu grande amigo não teria bebido até não agüentar mais e não teria jogado sua vida fora ao perder o controle de um carro.

Estas indagações, que inundam agora o meu ser, nunca mais terão resposta. A minha falta de tempo me impediu de respondê-las. Agora escolho uma roupa preta, digna do meu estado de espírito, e pego o telefone. Aviso ao meu chefe que não irei trabalhar hoje, e quem sabe nem amanhã, pois irei tirar o dia para homenagear uma das pessoas que mais amei nesta vida. Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo, entre lágrimas e remorsos que, para acompanhar durante um dia inteiro o seu corpo já sem vida, EU TENHO TEMPO!

REFLEXÃO:
E você, tem tido tempo para os seus amigos? Tem pego no telefone e ligado para perguntar como ele (ela) está, como vai sua vida, ou apenas para ouvir a sua voz? Ou agora, com o advento das redes sociais, tem pelo menos enviado uma mensagem semanal para ele (ela)? É claro que não se pode fazer isso com todos os amigos, mas podemos manter um relacionamento mais estreito com aqueles que são mais chegados a nós, e que nos procuram com mais frequência. Não esqueçamos que a amizade é como uma planta, precisa ser regada constantemente para se manter viva.


Por Nolfeu Barbosa

 

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