Quantos de nós podemos relatar o privilégio de termos assistido a um show ao vivo do Pink Floyd? A considerar que a última apresentação da formação clássica da banda ocorreu durante o Live 8, no dia 02 de julho de 2005, no London's Hyde Park, na cidade de Londres, Inglaterra e, também, levando-se em conta que a trupe encabeçada por Roger Waters, David Gilmour e cia jamais realizou uma turnê na América do Sul, podemos afirmar que raríssimas pessoas podem se orgulhar de ostentar tal feito. Felizmente, como consolo, fomos agraciados com as diversas vindas de Roger Waters ao Brasil (em Porto Alegre foram quatro oportunidades: 2002, 2012, 2018 e 2023) e David Gilmour, ao menos, veio uma única vez (2015, sendo que ele também incuiu Porto Alegre no roteiro). Mas o Pink Floyd completo, inteirinho da silva, jamaiis aportou em terras tupiniquins.
Assim, como jamais pudemos vivenciar ao vivo o auge da carreira do Pink Floyd (até mesmo porque o grupo se desfez), nos resta contar com a sorte e esperar que uma banda qualquer se aventure a tocar o repertório consagrado da banda britânica, tarefa que, aliás, não é das mais fáceis devido à complexidade dos arranjos. Por exemplo, quem seria o louco de tentar imitar a sensibilidade musical de David Gilmour? Felizmente, tem gente que topa a empreitada e encara o desafio de emular a sonoridade imersiva que caracterizou a obra do Pink Floyd.
Não por acaso, influenciada pela sonoridade do Pink Floyd, a banda RetroPool se propôs a realizar um tributo em homenagem à banda britânica, resgatando inúmeros clássicos consagrados de álbuns lendários como "The Dark Side of the Moon", Wish You Were Here", "Animals" e "The Wall", além de canções da era Syd Barret. Formada em Santiago em 2019, a RetroPool tem como integrantes Ângelo Tusi (teclados), Benhur Cadó (vocal), Bruno Canabarro (bateria), Filipe Sarturi (guitarra), Mauricio Sarturi (baixo) e Rodrigo Nenê (guitarra). Com exceção de Ângelo e Rodrigo, todos os demais integraram a saudosa banda Argonautas.
Assim, cercado de expectativas e ansiosamente esperado por diversos admiradores, realizou-se na noite deste último sábado, 09/11, na Dom Carlos Cervejaria, o Tributo Pink Floyd, o qual contou com um excelente público. Talvez, nunca se tenha visto na história da Dom tanta gente vestida com aquelas tipicas camisetas de bandas, estampadas com o nome da icônica banda inglesa.
E o início da apresentação deu uma amostra da catarse sonora que tomaria conta do público ao longo da apresentação: de repente, os efeitos sonoros que carcterizam a canção "Speak to Me" (as batidas de coração do final de "Eclipse", o som da caixa registradora, presente no início da faixa "Money", o som dos relógios de "Time", as risadas de "Brain Damage" e os gritos de "The Great Gig in the Sky") sinalizaram o início dos trabalhos. Na sequência, como se estivéssemos ouvindo o álbum "The Dark Side of the Moon" na ordem exata das faixas, foi a vez da suavidade dos acordes de "Breathe" tomar conta do palco. A partir de então, canções extraídas dos quatro álbuns mais conhecidos, além de composições da era Syd Barret, passaram a se revezar ao longo do repertório.
"Young Lust" foi a primeira faixa do álbum "The Wall" a figurar na noite, seguida por "Mother". Por sua vez, o álbum "Wish You Were Here" deu às caras justamente com a música cujo solo, em princípio, seria um mero exercício de David Gilmour para aquecer os dedos: "Have a Cigar". Até o intervalo programado pelos músicos, muitos outros clássicos foram interpretados, tais quais como "Money", com direito ao som de moedas e da caixa registradora. Mas o melhor ainda estava por vir nessa canção, com a participação do saxofonista Luciano Ramos fazendo o papel do lendário Dick Parry (ele ainda figuraria em "Us And Them" e, no segundo bloco, "Shine On You Crazy Diamond". Já o clássico absoluto "Another Brick in the Wall" teve as suas três partes executadas para o delírio da galera.
Após sucessivas pedradas musicais, um intervalo se fez necessário para que os músicos pudessem recuperar a energia e o público tomar fôlego, na espera daquilo que ainda estava por vir. E a exemplo dos shows da turnê "Rattle That Lock" realizados por David Gilmour no Brasil em 2015, a volta do intervalo foi com a icônica "Shine On You Crazy Diamond", com seus acordes etéreos tomando conta do ambiente. Outra grata surpresa presente no repertório foi "Pigs (Three Different Ones)", faixa do álbum "Animals", de 1977.
Em meio a tantos hits que se tornaram clássicos atemporais, as chamadas "cerejas do bolo" acabaram ficando para o final: o hino "Wish You Were Were", com seu inconfundível riff era uma destas pérolas. Logo na sequência vieram mais dois petardos sonoros, oriundos do álbum "The Wall: "Hey You" e "Run Like Hell". Após a execução destas duas últimas canções, o vocalista Ben Hur Cadó comunicou o final do show. Mas ficou no ar a sensação de que ainda faltava algo. Como carta na manga guardada de forma proposital para o bis, surgia a canção cujo solo de guitarra é considerado o mais lindo da história do rock: "Comfortably Numb". O guitarrista Rodrigo Nenê conseguiu tirar com maestria de sua guitarra o solo que foi eternizado por David Gilmour.
E assim, o excelente público que lotou as dependências da Dom Carlos Cervejaria na noite de sábado voltou pra casa feliz e, digamos, "confortavelmente entorpecido", por ter presenciado um show fidedigno à sonoridade do Pink Floyd.
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Texto por Marcos Contreira.