Com 19 clubes no currículo, o ex-atleta do Grêmio concedeu uma entrevista exclusiva ao Santiagonews.
01 de Março de 2024 às 22:26A carreira de um jogador de futebol profissional é feita de altos e baixos... Para muitos atletas iniciantes, a profissão representa um sonho de glórias em campo, altos salários e fama. Mas, por outro lado, como jogar nos principais clubes não é para todos, a profissão também oferece desafios grandes. Baixos salários, jogos em divisões menores e dificuldades são alguns exemplos de desafio no começo de carreira. Além disso, existe muita pressão para que o jogador de futebol traga resultados o quanto antes. Nenhum clube espera, portanto, um atleta não gerar resultados logo no começo da carreira. Mas independente do desempenho, a trajetória de um atleta rende inúmeras histórias ao longo da carreira.
No domingo passado, 25 de fevereiro, em suas andanças por Capão da Canoa, o diretor do Santiagonews, Júlio Barcelos, a convite do amigo Helio Borsa Rigon (Deco), teve a oportunidade de conversar com o ex-jogador de futebol Adriano Neves Pereira, que tornou-se mais conhecido no meio futebolístico como Adriano Chuva. Com 19 clubes no currículo, entre eles Grêmio, Cruzeiro, Sport, e Palmeiras, além de times como o Al-Nassr da Arábia Saudita e outros quatro clubes da Coréia do Sul, país no qual morou por nove anos, Adriano Chuva atualmente reside em Capão da Canoa, sua cidade natal e têm como afazeres o trabalho na construção civil e a formação de novos jogadores.
Logo no início da entrevista, ao ouvir a menção do nome do nosso portal de notícias, Chuva achou interessante a "sacada" de agregar Santiago + News na denominação do site e lembrou da ocasião em que disputou a Copa Santiago de Futebol Juvenil, naquela época ainda com a antiga denominação de Torneio Romeu Goulart Jacques. Disse ele que Santiago faz parte de suas memórias como atleta, bem no início de sua carreira, e recordou que nunca tinha visto uma cidade com tantos quartéis. Lembrou que no quartel onde sua equipe ficou hospedada, os jogadores ficavam sentados embaixo da sombra das árvores comendo melancias que eram trazidas pelos soldados. Em razão deste ter sido o primeiro campeonato no qual Adriano teve de viajar com seu time para viajar, ele considerou a experiência como inesquecível, reconhecendo a importância da Copa Santiago em projetar inúmeros talentos para defenderem seleção brasileira ou para jogarem na Europa. Naquele torneio, o Grêmio sagrou-se campeão contando com o craque Ronaldinho Gaúcho.
No dia em que esta entrevista foi realizada, foi disputado mais um Gre-Nal e coincidência ou não, foi justamente numa edição do maior clássico do nosso estado que Adriano Chuva fez sua estreia (edição número 352, ocorrida em 28/10/2002). Naquele jogo, o Grêmio saiu vencedor pelo placar de 1 a 0, com gol marcado por Rodrigo Mendes. O ataque tricolor naquele dia era formado por Adriano Chuva, Rodrigo Fabri e Luiz Mário. Mas voltando ao Gre-Nal do último domingo, Adriano apostou que o Inter venceria o clássico, o que de fato ocorreu. Seu palpite se justificou em função de que o Inter, na sua opinião, tem atualmente melhores opções de jogadores a disposição, se comparado ao time do Grêmio. E analisando com um olhar tático o Gre-Nal que marcou sua estreia no Grêmio e o mais recente realizado, Adriano Chuva pontuou que o futebol da atualidade está bem mais dinâmico, tendo mudado muito em relação à época em que jogava, (os jogadores estão mais leves e cada qual se posicionando mais na sua marcação). "Este foi um bom Gre-Nal, lembrando os de antigamente", sentenciou. Argumentou que graças a sua convivência no futebol, seu palpite foi baseado na sua leitura técnica e não como mero torcedor. Baseado nisso, ainda comentou que o Grêmio já não tinha no ano passado um elenco adequado para estar na posição que encerrou o último Campeonato Brasileiro. “O futebol tem essa linguagem técnica, essa visão técnica, então eu vejo que nos últimos três anos o Inter sempre esteve nas ‘cabeças’ e, de uma hora pra outra, o Grêmio ficou bom porque trouxeram Suarez, mas esqueceram que era o mesmo elenco”.
O começo da carreira de Adriano Chuva foi no Juventude, estando aí a explicação do porquê dele ser torcedor declarado do time da serra. Na época, ele trabalhava numa obra em Capão da Canoa e o pessoal do time o viu jogando na beira da praia. Ele foi num final de semana jogar em Caxias e lá fez dois gols. Após o retorno para Capão, ele jogou pelo Serramar, conhecido time daquela região, e fez mais dois gols, o que lhe valeu um chamado para se apresentar imediatamente no início daquela semana no alviverde da serra gaúcha. Convém dizer que foi o Juventude que lhe projetou para o futebol profissional, lá recebendo os rígidos ensinamentos dos “gringos” como ele mesmo definiu. Chuva nutre muito carinho pelo Juventude, mas confessou ser um time difícil de torcer em função da irregularidade ao longo dos anos, mas hoje, felizmente, está na primeira divisão do futebol brasileiro (inclusive, ele faz parte dos “masters” da equipe da serra. Outro time que ocupa o coração de Adriano Chuva é o Sport de Recife, pois foi no time nordestino que ele ressurgiu para o cenário futebolístico (segundo ele, “no Nordeste gostam muito de jogador gaúcho pelas características”). Relembrou que disputou poucos jogos pelo Palmeiras por causa de uma lesão no joelho, Também jogou no Cruzeiro de Minas Gerais, que tinha um elenco muito bom e onde chegou a fazer gol. Não chegou a marcar gols em sua passagem pelo Grêmio, mas segundo ele “todo jogador deve passar pela dupla Gre-Nal, porque é diferente jogar aqui. É como se fosse uma Europa, clima diferente, comida boa, pessoas bonitas, frio... O tipo de futebol mais próximo da Europa é o do Rio Grande do Sul, pois é o campeonato que melhor deixa preparado para ir jogar fora”.
Relembrando alguns dos atletas que faziam parte do elenco do Grêmio na época em defendeu o tricolor (Danrlei, Anderson Polga, Luís Mário, Rodrigo Mendes, Tinga, Émerson...), Adriano Chuva fez a observação de que a qualidade técnica decaiu muito ultimamente, pois os times não têm utilizado garotos da base nos seus elencos principais, sendo eles preteridos em favor de outros atletas que são trazidos de fora.
Instigado a citar uma partida memorável, Adriano Chuva relembrou uma que ele considera muito especial e que até a torcida do Juventude jamais esqueceu: foi em 2002, pela Copa João Havelange, no qual o time da serra gaúcha perdia por 3 a 1 para o Grêmio e ele estava retornando de uma lesão. Naquele dia, ele fez dois gols, sendo um de meia-bicicleta e outro de cabeça, acabando o placar final ficando em 4 a 3 e o Juventude vencendo de virada. Mesmo o mais fanático dos torcedores do Juventude não acreditava numa virada no placar, pois o Grêmio ganhava por 3 a 1 ainda no primeiro tempo e fazendo com que muitos torcedores fossem embora durante o intervalo da partida, esvaziando o estádio Alfredo Jaconi. Ao chegarem em casa e ouvirem a reação do Juventude, os torcedores voltaram para o estádio. Tal partida foi considerada o “jogo do século” pela torcida do Juventude, tamanha a atmosfera épica do feito.
No currículo de Adriano Chuva, constam passagens por times da Coréia do Sul, um local bastante fora do eixo do cenário principal do futebol mundial. Acerca dos costumes, ele falou que na Coréia o salário é pago sempre em dia (contrastando com a realidade de muitos times brasileiros, não há assaltos, os torcedores não agridem os jogadores após um resultado frustrante... Ele lembra que numa ocasião, logo no primeiro jogo do campeonato, o time que Chuva defendia perdeu de 7 a 1 em casa. Enquanto tomava banho após a partida, ele notou que no lado de fora dos vestiários, mais de trezentos torcedores o esperavam. Temendo ser xingado, Adriano Chuva foi surpreendido na saída com pedidos para tirar fotos. “Não tem problema que vocês perderam, vamos pra próxima, nós estamos juntos com vocês”. Ou seja, uma cultura totalmente diferente daquela que é comumente vista no mundo futebolístico. Somada à questão financeira e a fase de sucesso que vivenciou, estes fatores foram preponderantes para uma permanência longa na Coréia.
Depois que pendurou as chuteiras, Adriano Chuva se aventurou pela política, chegando a ser suplente de vereador em Capão da Canoa. Na sua visão, a política “é uma arte de trair” e isso é algo que não servia para um jogador como ele, que veio da periferia, trabalhou em obra e ganhou a vida. O propósito dele ter entrado na política foi o de querer ajudar os outros, porém a coisa toda virou negócio de “coitadinhos”, envolvendo uma troca de favores e de interesses em detrimento de candidatos realmente capacitados e dispostos a promover mudanças. Chuva é filiado ao PSD e ainda não definiu se irá concorrer nesse ano, uma vez que política é algo que dá dor de cabeça, divide famílias, sobretudo nos últimos tempos, quando ela se tornou bastante agressiva, deixando de ser algo saudável. “Antigamente, a política era mais sincera, mais amiga, então vou repensar se irei entrar na política de novo”, declarou.
Sonho de todo jogador profissional, a Seleção Brasileira também contou com a atuação de Adriano Chuva. Em uma partida considerada memorável, ele marcou dois dos cinco gols contra a Croácia, em um dos jogos que serviam de preparação para a Copa do Mundo de 2002. Chuva acabaria não indo ao Mundial, mas os dois gols marcados foram exibidos no Globo Esporte, o que de certa forma era uma espécie de vitrine para impulsionar ainda mais a sua carreira.
Atualmente, Adriano Chuva se dedica à formação de novos jogadores, promovendo as chamadas “peneiras” em busca de novos craques da bola (inclusive, estão em curso a seleção de novos jogadores para um time de Portugal). Chuva disse que é possível que uma destas “peneiras” possa ocorrer em Santiago, um celeiro nato de novos talentos.
Fechando a entrevista, os ensinamentos que o futebol proporcionou para a vida de Adriano Chuva são “ a bola é tua namorada, trate bem a bola que ela vai te dar tudo... Vai te dar mulher bonita, vai te dar um carro bom... Mas o melhor de tudo é que tu não pode perder a tua essência. Tem que aprender a tratar bem as pessoas que estão perto de ti no futebol. São aquelas pessoas invisíveis que ninguém vê no mundo do futebol (o cara que corta a grama do campo, aquele que lava a roupa para entregar para os atletas, a “tia” que faz a comida... E se você quer ser um jogador de futebol, baixe a cabeça e vá treinar... Não fique reclamando de treinador, não fique reclamando de banco de reservas, o que tu faz é pra ti e não pelos outros. E sempre vai ter alguém que vai te olhar e vai mudar a tua vida. Se dedique e nunca desista do seu sonho, pois é o sonho que te leva, é o que te movimenta e o que te move e faz com que tu saia do lugar. Acredite no seu sonho, não deixe que ninguém e nenhuma pessoa falar pra ti que tu não pode. Você pode e Deus dá mais do que você pediu. No meu caso foi isso e a bola me deu muitas coisas que, se eu fosse um cara formado, não teria a oportunidade de conhecer... Pessoas, falar línguas que eu nunca estudei. Isso são coisas que só o futebol dá pra quem leva o futebol a sério”.
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