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Perda muito grande, diz irmã de transexual morta em São Borja
23 de Junho de 2018 às 12:11
Corpo de Thalia Costa foi encontrado na manhã de quinta-feira | Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Corpo de Thalia Costa foi encontrado na manhã de quinta-feira | Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

A morte a garrafadas da transexual Thalia Costa, 32 anos, chocou uma família de São Borja, na Fronteira Oeste. A mãe dela precisou ser hospitalizada e uma irmã de Thalia, que mora em Porto Alegre, teve de ir às pressas à cidade natal. Chegou ao município na madrugada desta sexta-feira (22), horas antes do enterro no Cemitério do Passo.

Espécie de confidente de Thalia, Mariane Costa Barbosa, 26 anos, acompanhava à distância o relacionamento da irmã com o jogador de futebol Douglas Gluszszak Rodrigues, de 22 anos. Na quarta-feira (20), dia do crime, os dois completaram um mês de namoro. O corpo dela só foi encontrado na manhã do dia seguinte, às margens do Rio Uruguai.

Às vezes a transexual repassava à ela mensagens apaixonadas — em áudio e texto — do atacante da Associação Esportiva São Borja.

— Na cabeça dela, ele estava apaixonado. E nesses áudios tinha muito amor envolvido. Mas agora eu digo que ele é um monstro, destruiu uma família. A gente sofreu uma perda muito grande. Queremos justiça — revolta-se a irmã.

Dez dias antes de ser morta, na véspera do Dia dos Namorados, Thalia pediu para terminar o relacionamento com Douglas, mas ele não aceitou e o namoro persistiu.

Horas antes do crime, o casal comemorou o primeiro mês da relação em um apartamento. A entrada e a saída deles no edifício foi flagrada por uma câmera de segurança, cuja gravação a polícia teve acesso. A partir das imagens, os investigadores conseguiram chegar ao jogador de futebol.

Antes de ir ao apartamento, Thalia conversou por telefone com Mariane por volta das 13h30min. A conversa foi rápida:

— Ela estava tranquila, não demonstrou nada. Depois a gente não se falou mais — conta Mariane.

Outro indício que levou a polícia a Gluszszak foi o rastro de sangue em uma quadra que separava o apartamento dele de onde foi deixado o carro, horas após o crime. Mariane explica que o jogador cortou a mão ao aplicar os golpes de garrafada em Thalia.

— O rosto dela ficou desfigurado — observa a irmã.

O relacionamento dos dois não era de conhecimento de todos. Segundo Mariane, ela não queria expôr o companheiro.

"Pessoa muito querida", classifica irmã

Na cidade de 61 mil habitantes, Thalia era conhecida pelo bom humor e pelas inúmeras amizades.

— Ela é, foi, uma pessoa muito querida por todos — conta a irmã, ainda se acostumando com a perda.

Há dez anos, quando Thalia passou a se vestir de mulher, foi a personalidade cativante que a fez contornar o preconceito e desaprovação de desconhecidos, que a viam na rua com trajes femininos.

— Quando ela teve a transformação, a população não aceitou, mas ela começou a cativar eles. Foi uma pessoa que cativou São Borja — exalta-se Mariane.

Há pouco mais de um ano, a jovem passou a trabalhar como vendedora de uma loteria nas ruas da cidade. O trabalho externo acabou fazendo com que ela ficasse mais conhecida na cidade. Em sua rede social, comemorou a sorte de um cliente, que ganhou um carro novo.

No campo amoroso, Thalia também se dedicava. Durante o relacionamento com Gluszszak, ia em todas as segundas-feiras pegar o namorado na rodoviária, ainda de madrugada. Durante a semana, ele se dividia entre São Borja e Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Passava de segunda a sexta-feira na cidade da fronteira em um alojamento alugado pelo time. Depois, voltava para Canoas, onde mora a ex-esposa dele e a filha de três anos.

Antes do jogador de futebol, Thalia namorou outro homem por quase quatro anos. O relacionamento só terminou devido a agressões do companheiro. Antes da "transformação", como a família classifica a nova identidade de gênero, chegou a se casar com uma mulher, mas acabou terminando.

Homem confessou o crime

Em depoimento, o namorado da vítima confessou a briga e o crime. Ele alegou que os dois discutiram porque Thalia queria divulgar fotos do casal em redes sociais, o que ele não permitia.

Conforme o delegado Marcos Viana, responsável pela investigação, o homem vai ser indiciado por homicídio triplamente qualificado: por motivo fútil, uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e emprego de meio cruel. 

Fonte: Gaúcha ZH

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