Três meses após ter a casa vasculhada pela Polícia Federal (PF), o prefeito de Bagé, Divaldo Lara (PL), voltou a ser alvo de nova operação policial, na manhã desta terça-feira (13). Desde o alvorecer, 72 agentes cumprem 34 mandados de busca e apreensão em Bagé, Porto Alegre e Florianópolis.
Além de Divaldo, são alvos da ação a mulher dele, Priscila Lara, e os vereadores Rodrigo Halfen Ferraz e Michelon Garcia Apoitia, ambos do PL. Ferraz é o atual presidente da Câmara de Vereadores de Bagé.
Batizada de Coactum III, a operação investiga esquema de rachadinha e caixa 2 no município. Segundo a PF, também há indícios de organização criminosa, peculato e lavagem de capitais, além de outros possíveis crimes contra a administração pública.
Autorizada pelo Tribunal Regional Eleitoral, a ação é desdobramento da investida realizada em maio, quando foram presos Amarilio Augusto Sturza Dutra, então assessor da Procuradoria Jurídica do município, e a servidora Manuela Jacques Souza. Detidos na Câmara de Vereadores e no Centro Administrativo, eles seriam, conforme a PF, os encarregados de recolher parte dos salários dos servidores.
Na ocasião, um deles estaria saindo para fazer o recolhimento dos valores, inclusive portando uma sacola para acomodar os recursos. Foram apreendidos ainda cerca de R$ 50 mil em moeda nacional e estrangeira, aparelhos celulares e documentos.
Conforme a PF, "desde 2017 servidores públicos comissionados de Bagé são obrigados a pagar parte de seus salários para a organização criminosa". Os valores seriam revertidos para campanhas eleitorais, sem a devida declaração na Justiça Eleitoral.
De acordo com a apuração, mais de R$ 10 milhões teriam sido desviados dos cofres públicos.
Para a PF, Divaldo seria o líder da organização criminosa, encarregado de escolher as pessoas contratadas no município e beneficiado com o recebimento dos valores arrecadados. A esposa, Priscila, auxiliaria na lavagem dos recursos, realizando transações bancárias em valores muito superiores aos rendimentos lícitos do casal. Segundo a PF, ela é policial civil e teria acesso a informações privilegiadas.
O presidente da Câmara também é suspeito de se beneficiar do esquema. Já Michelon seria outro integrante do grupo e teria começado a cobrar contribuições de seus apadrinhados políticos por meio de uma assessora direta.
Assim como em maio, os agentes revistaram a casa do prefeito. Foram apreendidos no local uma escopeta, uma pistola e munição. Como os mandados judiciais também determinam o sequestro de bens, todos os equipamentos de uma ampla academia montada na residência do prefeito também foram apreendidos.
A Operação Coactum — nome que caracteriza o caráter compulsório da entrega de salário — foi deflagrada pela primeira vez em junho do ano passado. Em maio de 2024, os policiais apreenderam na casa de Divaldo medicamentos introduzidos irregularmente em território nacional, além de diversas seringas supostamente desviadas da prefeitura.
Os medicamentos, Durateston, Stanozoland e Boldenona, são, respectivamente, usados para reposição de testosterona, anabolizante sintético para queima de gordura e um composto veterinário para ganho de massa muscular.
Contrapontos
O que diz a defesa de Divaldo Lara, em nota assinada pelos advogados Cristiano Gessinger Paul e José Henrique Salim Schmidt:
"Não existem fatos novos que justifiquem o mandado de busca e apreensão cumprido hoje, ao contrário, trata-se de exaurimento da mesma investigação. O prolongamento indefinido da investigação é ilegal, desproporcional e sua abusividade será demonstrada em juízo."
Fonte: GZH.