Coluna: Geral RS

Pai, mãe e filha morrem de covid-19 e comovem cidade do Vale do Taquari
31 de Agosto de 2020 às 10:01
Ângelo, Helena e Maria de Lourdes moravam juntos, em Pouso Novo / Arquivo pessoal
Ângelo, Helena e Maria de Lourdes moravam juntos, em Pouso Novo / Arquivo pessoal

Em 19 dias, três integrantes de uma das famílias mais tradicionais de Pouso Novo, no Vale do Taquari, morreram vitimados pela covid-19. A perda do ex-prefeito Ângelo Bonacina, 89 anos, da mulher dele, Helena Bonacina, 83 anos, e da filha do casal, Maria de Lourdes, 63 anos, as únicas três do município que teve até agora 13 casos confirmados, causou comoção entre os 1,8 mil habitantes.

Ex-prefeito em duas gestões, Ângelo morreu em 8 de agosto. Uma semana depois, foi a vez da mulher dele, Helena, ex-secretária da Saúde de Pouso Novo. A bancária e comerciante aposentada Maria de Lourdes Bonacina, 63 anos, morreu em 27 de agosto.

Segundo um dos filhos do casal Carlos Alberto Bonacina, Maria de Lourdes viveu em Porto Alegre até março deste ano. A chegada da pandemia de coronavírus, porém, a levou a morar com os pais para ficar mais próxima. Os três mantiveram distanciamento social neste período, mas recebiam a visita à distância de parentes. A única saída diária de Ângelo era para ir ao sítio da família, na localidade de Forqueta Alta, onde gostava de cuidar da lavoura de um hectare.

— O pai e a minha irmã apresentaram dor no corpo, cansaço e tosse. A mãe não teve tosse. Levamos eles ao hospital de Progresso, mas foram mandados para casa porque não estavam mal. Depois de uns cinco dias, começaram a ter febre. Retornamos ao hospital e, então, não voltaram mais para casa — recorda Carlos.

Pai e filha foram internados em 26 de julho, em Progresso. Abatida com a ausência dos dois, Helena chorou por cinco dias até também ser hospitalizada. Como o quadro de Ângelo piorou rapidamente, ele precisou ser transferido para a UTI do Hospital Pompéia, em Caxias do Sul, porque não havia vaga na região do Vale do Taquari.

— O pai seguiu confiante até ser entubado. Dias antes de adoecer, ele chegou a comentar comigo que estava preparado para tudo, pois havia tido uma vida boa até aquele momento — conta Carlos.

Com o agravamento do quadro da mãe e da filha, ambas foram transferidas para o Hospital Bruno Born, em Lajeado, onde permaneceram na UTI até o falecimento.

Carlos conta que os três, apesar de serem ativos e dispostos, tinham comorbidades que podem ter agravado a doença. Há quase 30 anos, Ângelo tirou parte de um dos pulmões por conta de uma infecção. Helena estava acima do peso, assim como Maria de Lourdes, que ainda era diabética e ex-fumante.

Logo depois da confirmação da morte do ex-prefeito, moradores da cidade prestaram homenagens. Uma delas foi colocar um cartaz dizendo "Pouso Novo está de luto" em frente a cada casa. A prefeitura decretou luto de três dias.

— A morte de Ângelo Bonacina é uma perda grande porque ele faz parte da história de Pouso Novo. Foi um líder atuante — destaca o atual prefeito e amigo, Aloisio Brock.

Da terceira geração de uma das famílias imigrantes que chegou a Pouso Novo, Ângelo foi professor na cidade durante 30 anos, vereador em Arroio do Meio na década de 1960 e de 1970, representando o distrito de Pouso Novo, e presidente da comissão emancipacionista em 1988. Eleito prefeito em duas ocasiões, teve o filho Carlos Alberto como secretário da Administração e Finanças.

— O pai era um visionário, colaborava com muitas ideias e era reconhecido por todos como um líder nato. Ficam como exemplos sua honestidade e seu espírito comunitário — afirma Carlos Alberto.

Antes de ser secretária da Saúde de Pouso Novo na primeira gestão de Bonacina, Helena trabalhou como agricultora e merendeira de escola. Casados há mais de 60 anos, os dois tiveram cinco filhos — Maria Dolores, 64 anos, Maria de Lourdes, José Alexandre, 61 anos, João Batista, 58 anos, e Carlos Alberto, 55 anos —, oito netos e dois bisnetos. Maria de Lourdes era solteira e não tinha filhos. Pai, mãe e filha foram sepultados sem velório ou cerimonial, por conta da covid-19, no Cemitério Católico de Pouso Novo.

Fonte: Gaucha ZH.

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