Coluna: COLUNA DO BARBOSA

Dois poemas
17 de Maio de 2024 às 09:11
Leia os dois textos e medite... Eles são bem condizentes com o difícil momento pelo qual estamos passando.
Leia os dois textos e medite... Eles são bem condizentes com o difícil momento pelo qual estamos passando.

A coluna de hoje traz dois poemas bem apropriados ao momento que estamos atravessando. O primeiro fala das queixas de um rio qualquer, que não tem nenhuma culpa dos estragos involuntários que ele provoca. O segundo poema trata das consequências de uma catástrofe como essa que estamos vivenciando agora. Leia e medite sobre isso.

LAMENTO DE UM RIO (Scheilla Lobato)
Me perdoem por toda esta "bagunça"... Eu só queria passar.
Eu não fui feito para destruir... Eu só queria passar.
Já fui esperança para os navegantes.
Rede cheia para os pescadores.
Refresco para os banhistas em dias de intenso calor.
Hoje sou sinônimo de medo e dor.
Mas... Eu só queria passar.

Me perdoem por suas casas,
por seus móveis e imóveis.
Por seus animais,
por suas plantações...
Eu só queria passar.
Não sou seu inimigo.
Não sou um vilão.
Não nasci pra destruição...
Eu só queria passar.
Era o meu curso natural.
Só estava seguindo meu destino.

Mas, me violentaram,
sufocaram minhas nascentes,
desmataram meu leito... quando eu só queria passar.
Encontrei tanta coisa estranha pelo caminho,
que me fizeram transbordar:
Muros
Casas
Entulhos
Garrafas
Lixo
Pontes
Pedras
Paus...
Tentei desviar... Porque eu só queria passar.

Me perdoem por inundar sua história,
me perdoem por manchar essa história.
Eu só estava passando...
Seguindo o meu trajeto;
cumprindo o meu destino: passar...

Poema de K. O’MEARA
Quando a tempestade passar, as estradas se amansarem
e formos sobreviventes de um naufrágio coletivo,
com o coração choroso e o destino abençoado,
nos sentiremos bem-aventurados, só por estarmos vivos.

E nós daremos um abraço no primeiro desconhecido,
e elogiaremos a sorte de termos mantido um amigo.
E aí nós vamos lembrar tudo aquilo que perdemos,
e de uma vez aprenderemos, tudo o que não aprendemos.

Não teremos mais inveja,
pois todos sofreram.
Não teremos mais o coração endurecido.
Seremos todos mais compassivos.

Valerá mais o que é de todos
do que o que eu nunca consegui.
Seremos mais generosos
E muito mais comprometidos.

Nós entenderemos o quão frágeis somos,
e o que significa estarmos vivos!
Vamos sentir empatia, por quem está e por quem se foi.

Sentiremos falta do velho que pedia esmola no mercado,
que nós nunca soubemos o nome
e sempre esteve ao nosso lado.

E talvez o velho pobre fosse Deus disfarçado,
mas você nunca perguntou o nome dele,
porque estava com pressa...

E tudo será milagre!
Tudo será um legado.
E a vida que ganhamos será respeitada.

Quando a tempestade passar,
eu te peço, Deus, com tristeza,
Que Você nos torne melhores
como Você “nos” sonhou.

Seleção feita por Nolfeu Barbosa.

 

Mais artigos de COLUNA DO BARBOSA